A FLORESTA VERMELHA
roteiro de Rotsen Alves Pereira
Sinopse: um triangulo amoroso com final trágico entre Chapéuzinho Vermelho, Lobo Mau e a Vovózinha.
CENA 1: CASA FLORESTA. EXT/DIA
Dois homens saltam de um carro e caminham até a casa, chamaremos de Mordomo o mais velho e de Novato o mais novo. Um policial dorme dentro da viatura que está estacionada de um lado do quintal, e dois enfermeiros fumam encostados na ambulância do outro lado com suas luzes a piscar.
Existe ainda um carro estacionado no quintal e quase na entrada da casa um bicicleta tombada. Na varanda da casa está o segundo policial. Novato cumprimenta o policial e ele lhe entrega uma prancheta. Mordomo e Novato entram na casa.
CENA 2: CASA DA FLORESTA. SALA. INT/DIA
MORDOMO - Que cheiro bom! (Novato quase vomitando protege o rosto com um lenço e olha sem entender para Mordomo) De sangue garoto, de sangue. Que saudade disso. (Pausa) Trabalho bonito esse, hein? A julgar pelo estilo ou foi Tarantino ou John Woo...
A sala está toda revirada, moveis tombados pratos e vidros quebrados. Os três cadaveres na sala estão assim dispostos: um homem tombado sobre a mesa; uma jovem sentada encostada na parede, com o rosto incrivelmente erguido olha para o homem na mesa, perto dela um boné vermelho e, uma senhora sentada no sofá.
MORDOMO - Se bem que tá mais pra (John) Woo. Quem eram os três?
NOVATO - (Consultando a prancheta) A senhora ali era a dona da casa e morava sozinha, se chamava Marta, a menina era Célia, sua neta e parece que vinha duas vezes a casa da avó. O homem ainda não foi identificado, mas parece se tratar de um vagabundo conhecido por Lobo.
MORDOMO - Lobo... (Abaixando-se próximo a Célia) O que já temos?
NOVATO - A menina ai tem uma coisa cravada na nuca, que seguramente foi o que lhe causou a morte, o cara na mesa teve afundamento de cranio e a senhora no sofá ainda não se sabe do que morreu... (Mordomo olha para Novato que dá de ombros).
MORDOMO - (Examina Marta e observa qualquer coisa nos braços dela) Não fazem nem idéia? (Novato nega)
Mordomo examina Lobo, vasculha toda a sala e descobre uma mulher que está sentada numa cadeira de balanço.
MORDOMO - (Voltando-se para Novato) Esta aqui tá viva! (Novato balança a cabeça) Quem é que tá aí?
NOVATO - Nunes. (Vira-se para a porta e chama) Nunes!
O policial entra olha para Novato e os dois olham para Mordomo que está perto da mulher na cadeira.
NUNES - Os caras tentaram de tudo... nada fez ela largar a cadeira...
MORDOMO - (Se aproximando dos dois) Quem é ela?
NUNES - É a filha da senhora aqui (Aponta para Marta) e mãe da menina.
MORDOMO - Foi ela quem descobriu os corpos? (Nunes concorda) Qual o nome dela?
NUNES - Marcia.
MORDOMO - Como é que ela foi parar ali?
NUNES - Eu cheguei aqui e ‘abri’ a porta, ela passou por mim feito um zumbi e se sentou lá...
Mordomo se aproxima de Marcia. Ela tem hematomas por todo o corpo, os olhos vidrados e belas pernas. Mordomo se senta no chão entre as pernas de Marcia, apoia a cabeça na sua coxa e começa a acariciar-lhe o joelho diante do olhar espantado de Novato e Nunes, o policial acena para a porta e os enfermeiros aparecem. Ficam os quatro homens olhando embasbacados a cena. Mordomo, ainda sentado no chão, balança a cadeira . (Tempo) Conversa com Marcia, não se ouve o que ele fala. Marcia lentamente solta os braços da cadeira e começa a tocar os cabelos de Mordomo. (Tempo) Mordomo leva as mãos a cabeça e segura as mãos de Marcia, se levanta sem soltar as mãos dela, diz-lhe alguma coisa que novamente não ouvimos, ampara-a pelos ombros e caminha para a porta. Cruza com os quatro homens ali ainda embasbacados.
CENA 3: CASA FLORESTA. SALA. INT/DIA
CELIA - (Entra carregando uma mochila) Marta, cheguei... (Fica surpresa com a presença de Lobo sentado na mesa da sala. Marta aparece na porta da cozinha e se aproxima olhando para os dois. Celia não nota a presença da avó. Fica olhando para Lobo).
MARTA - Já se conhecem?
LOBO - De vista.
MARTA - (Para Celia) Aconteceu alguma coisa?
CELIA - (Sem parar de olhar para Lobo) É que eu não tive aula... hoje, e resolvi...
MARTA - Sei, sei... Me de essa mochila aqui e enquanto eu guardo as coisas faça compania para a minha visita.
Celia se senta em frente ao Lobo e Marta sai. Celia e Lobo não falam nada, apenas se olham.
CENA 4: DELEGACIA. INT/DIA
Mordomo e Novato entram na sala e cada um se senta na sua escrivaninha.
NOVATO - Que merda foi aquela cara?
MORDOMO - Hum!?
NOVATO - Com a mulher?
MORDOMO - Ah, eu fiquei louco.
NOVATO - Louco?!
MORDOMO - É.
NOVATO - Como assim, ficou louco?
MORDOMO - Fiquei louco, maluquinho por aquelas pernas...
NOVATO - Como é que é?
MORDOMO - Eu já cheguei no joelho, mais um tempinho e eu subo um pouco mais... (Levantando-se) Eu vou comer alguma coisa (Olha para Novato).
NOVATO - Não, eu não tenho fome.
MORDOMO - (Já saindo) Se você não comer o que é que vai vomitar quanto ver sangue? (Rir)
CENA 5: CASA FLORESTA. SALA. INT/DIA.
MARTA - (Vindo da cozinha, para a neta) Você não deve ter almoçado ainda, então vamos todos almoçar.
CELIA - Não vó, eu não tô com fome e depois eu tenho uma porção de coisa pra fazer para a minha mãe...
MARTA - De jeito nenhum, você não vai fazer isso com a sua vó, vai? (Para Lobo) Você pode me ajudar?
Lobo e Marta vão para a cozinha. Ouve-se Marta discutir com Lobo. Lobo entra na sala, tras pratos e talheres que coloca sobre a mesa e volta para a cozinha.
CENA 6: DELEGACIA. INT/DIA.
Mordomo está na sala entra Novato carregando alguns papeis.
MORDOMO - E então?
NOVATO - (Arruma os papeis sobre sua mesa e pega uma das folhas) Bem, a menina morreu devido ao ferimento na nuca, causado pelo seu prendedor de cabelo, ao que tudo indica ela foi jogada contra a parede e na hora do choque o prendedor entrou na sua nuca. (Pega outra folha sobre a mesa) Já o Lobo...
MORDOMO - Qual é o nome dele?
NOVATO - Não se sabe. Parece que o cara nunca foi fichado.
MORDOMO - Deve ter um registro dele em algum lugar? (Novato gesticula que não) E Lobo?
NOVATO - Pelo que foi levantado, quando apareceu lá pela floresta ele domesticou, ou pelo menos fez amizades com os lobos que nessa época ainda existiam...
MORDOMO - Lobos?
NOVATO - Deviam ser raposas, sei lá... o que eu sei é que a partir disso ele ficou conhecido como Lobo.
MORDOMO - Além dos lobos ele fez amizade com mais alguém?
NOVATO - Acho que com os macacos, cobras, e... (Rir) Não, parece ele só gostava de bichos.
MORDOMO - Então o que ele fazia na casa da vovó?
NOVATO - Isso é uma das coisas que a gente tem que descobrir.
MORDOMO - Hum.
NOVATO - Bem, como eu ia dizendo, o Lobo morreu de afundamento craniano causado pela bengala da vovó.
MORDOMO - A vovó?
NOVATO - A perícia acha que não. O golpe foi desferido com muita violência... Eles constataram também que o Lobo apanhou muito e, um detalhe, sem reagir. (Mordomo não entende) A maioria das pancadas foram dadas nas costas e como não há sinal de que ele tenha sido amarrado e quase não há ferimentos em seus braços...
MORDOMO - Onde esse puto morava, na floresta?
NOVATO - Num pequeno casebre na floresta...
MORDOMO - Não encontraram nada que pudesse identificar o cara?
NOVATO - Disseram que tudo que tinha lá era um colchão sobre uma cama e mais nada...
MORDOMO - Quem garante que ele morava lá? (Novato dá de ombros) Agora por que ele não reagiu?
NOVATO - Essa é outra coisa que a gente tem que descobrir.
MORDOMO - Hum. E a vovó?
NOVATO - Tudo que os peritos conseguiram descobrir foi que os ferimentos que tinha não seriam suficientes para causar a morte dela...
MORDOMO - Mas então do que ela morreu?
NOVATO - Essa é outra coisa que a gente tem que descobrir.
MORDOMO - Esse negócio já tá com coisas demais pra gente descobrir.
Esse filho da puta não deixou nenhuma pista pra gente?
NOVATO - Parece que não... e tem mais uma merda, a casa tava trancada e a chave no bolso da vovó.
MORDOMO - “Essa é outra coisa que a gente tem que descobrir.”
CENA 7: CASA FLORESTA. INT/DIA.
Marta, Celia e Lobo almoçam. O clima é tenso.
MARTA - Está bom o almoço? (Celia e Lobo concordam) Tudo? Gostam de tudo? (Celia e Lobo não entendem) Há coisas que eu não gosto. Não gosto de cão que morde o dono... você dá comida... casa... tudo... e ele vem e lhe morde. Eu odeio isso.
CENA 8: HOSPITAL. SALA. INT/DIA.
Novato com um bloco e caneta na mão está sentado numa cadeira próximo a cama de Marcia e Mordomo circula pelo quarto.
NOVATO - Conte como a senhora descobriu os corpos.
MARCIA - Como a Celia não chegava eu fiquei preocupada e fui até a casa da minha mãe e...
MORDOMO - Como a senhora sabia que ela estava na casa da sua mãe?
MARCIA - Quando eu cheguei em casa encontrei um bilhete dela.
MORDOMO - Por que ficou tão preocupada?
MARCIA - Era minha filha.
MORDOMO - Sim, mas não poderia ter dormido na casa da avó?
MARCIA - Não.
MORDOMO - Por que?
MARCIA - Ela nunca dormia lá.
MORDOMO - Algum motivo para isso?
MARCIA - Nos últimos tempos a minha mãe estava... muito exigente com a sua privacidade...
MORDOMO - O que você fez quando chegou na casa de sua mãe?
MARCIA - (Soluçando) Eu olhei pela janela e vi os corpos...
MORDOMO - Você tem a chave da casa da sua mãe?
MARCIA - Sim.
MORDOMO - Você não entrou na casa?
MARCIA - Não me lembro...
MORDOMO - Não lembra se entrou na casa?
MARCIA - Não...
MORDOMO - Você se lembra de que depois entrou na casa com o policial? (Marcia nega) Lembra como saiu? (Marcia nega) Que pena.
NOVATO - (Após o tempo de silêncio que se seguiu) Sua filha ia toda semana a casa de sua mãe?
MÁRCIA - Duas vezes.
NOVATO - Por que com tanta frequência?
MARCIA - Minha mãe morava sozinha e eu lhe enviava compras...
MORDOMO - Duas vezes por semana?
MARCIA - No começo era só uma ou duas vezes por mês, mas depois... minha filha... ela cuidava se dedicava tão bem a avó... que eu nem precisa mais cuidar de nada...
MORDOMO - Ela tinha dias certos para ir na casa da avó?
MARCIA - Toda terça e quinta.
MORDOMO - Por que só nesses dias?
MARCIA - Eram os dias que ela não tinha inglês.
MORDOMO - E o que ela fazia lá numa segunda?
MARCIA - Não sei.
NOVATO - A senhora sabe alguma coisa sobre o homem que foi encontrado na casa de sua mãe ?
MARCIA - Como?
NOVATO - Alguém conhecido como Lobo. (Marcia nega) Mas já tinha ouvido falar dele. (Marcia nega) Mas ele chega ser quase uma lenda. (Marcia nega)
MORDOMO - A senhora costumava visitar sua mãe?
MARCIA - Eu quase não tinha tempo...
MORDOMO - Sua filha alguma vez mencionou a presença deste homem na casa da sua mãe?
MARCIA - Não.
MORDOMO - Sua filha usava boné? (Marcia não entende) Um boné vermelho.
MARCIA - Mais ou menos... (Mordomo não entende) Quer dizer... ela nunca foi de modismos... e ela não usava... ela o carregava preso a cintura...
MORDOMO - Hum. (Novato se levanta) Sua mãe usava bengala?
MARCIA - Não.
NOVATO - Não!? (Marcia confirma).
MORDOMO - Há quanto tempo não visitava sua mãe.
MARCIA - (Pausa) Depois da morte do meu pai...
MORDOMO - Tudo bem, tudo bem... é só, nós já vamos.
Novato toma a frente e Mordomo o segue. Quando chega na porta Mordomo volta até Marcia, que está sentada na cama. Mordomo arruma o travesseiro e a ajuda a deitar-se.
MORDOMO - (Enquanto tira o cabelo do rosto de Marcia) Vai ficar tudo bem... (Puxa o lençol para cobri-la e deixa as pernas dela a mostra) Tudo bem, tá? (Marcia concorda) Tudo vai ficar bem, tudo. (Faz um carinho no rosto de Marcia) Tudo... (Dá da uma olhada nas pernas de Marcia e sai. Cruza com Novato que tá na porta observando tudo)
CENA 9: HOSPITAL. CORREDORES. INT/DIA.
NOVATO - Cara, o que você quer? Comer a porra da mulher. Você vai acabar nos encrencando.
MORDOMO - De jeito nenhum: esse negócio de bacanal não é comigo não, você não foi convidado. (Rir) Quero que pegue o chaveiro da Marcia e mande alguém a casa da vovózinha testar todas as chaves na porta da casa.
NOVATO - Você não acredita que ela fez aquilo!?
MORDOMO - Acreditar eu acredito, mas espero que não... por que senão eu vou ficar sem aquelas pernas.
NOVATO - E a história da bengala, será que a bengala não era da vovózinha?
MORDOMO - Não, era sim.
NOVATO - E se não for. (Mordomo dá de ombros) E o que é que você queria com o boné da menina?
MORDOMO - Ela morreu porque o prendedor de cabelo entrou na sua nuca certo? Se ela usava boné, pra que ia usar prendedor de cabelo?
NOVATO - É, faz sentido.
CENA 10: CASA FLORESTA. SALA. INT/DIA.
MARTA - (Enquanto se levanta e recolhe os pratos) Agora a sobremesa, eu fiz um delicioso pudim.
Marta vai na cozinha e retorna com o pudim.
MARTA - (Põe o pudim sobre a mesa e distribui os pratos. Ainda de pé) Podem se servir. (Celia se serve. Marta vai até a porta, tranca-a e coloca a chave no bolso. Volta até a mesa e se senta.) Está bom? Delicioso não? Pena que eu não possa.
CENA 11: DELEGACIA. INT/DIA.
NOVATO - Você tinha razão quanto a chave...
MORDOMO - (Sem entusiasmo) Não falei, todos aqueles ferimentos nela... a idéia de que quando viu os corpos saiu correndo feito louca... se ferindo daquele jeito, não podia ser verdade. E o tanto que ela correu, ela foi encontrada... a quantos quilometros mesmo da casa da mãe? Sei lá, mais ela correu um bocado... não dava pra ser verdade. É uma pena.
NOVATO - O que é uma pena? Ela ter cometido os crimes ou você não ter mais chances de comê-la?
MORDOMO - As duas coisas estão diretamente ligadas. (Se alegrando) Mas espera aí, tem um sistema de visitas conjugais na cadeia não tem?
NOVATO - Vai casar com ela?
MORDOMO - Não, só subornar algum carcereiro.
NOVATO - Ah bom. E se não foi ela?
MORDOMO - E as evidencias? Afinal, ou o criminoso tinha a chave ou evaporou.
NOVATO - Mas por que ela ia fazer uma merda daquelas?
MORDOMO - “Essa é outra coisa que a gente ‘talvez’ não descubra”.
NOVATO - (Sacudindo o molho de chaves) Só tem um problema. (Mostra uma daquelas chaves antigas e gradonas) A chave serviu na fechadura, só que a fechadura não era mais usada.
MORDOMO - Como que é?
NOVATO - A vovó trocou, trocou não, instalou nova fechadura e a antiga ficou lá, só não era usada, tanto que a chave da velha fechadura não tava mais no chaveiro da vovó. E a julgar pelo tempo que a filha dela não passava por lá, não acredito que ela tinha a nova chave.
MORDOMO - Seu filho da puta!
NOVATO - (Rindo) Achou que ia ficar sem as pernas... Voltamos a estaca zero. O que pode ter acontecido? Não consigo imaginar nada.
MORDOMO - Pra mim foi o lenhador.
NOVATO - Que lenhador?
MORDOMO - Você não leu Chapeuzinho Vermelho
NOVATO - O que?
MORDOMO - Chapeuzinho Vermelho, o Lobo Mau, Vovózinha, etc, etc... Saca?
NOVATO - Do que você tá falando?
MORDOMO - Você não leu?
NOVATO - Claro que li, agora o que isso tem a ver?
MORDOMO - Ué, nos temos a vovózinha, temos a sua netinha, temos até o lobo mal, só não temos o lenhador, logo só pode ter sido ele o assassino. O problema é que na nossa história ele matou todo mundo e evaporou, certo?
NOVATO - Vai ficar de sacanagem com a minha cara, vai?
MORDOMO - Até agora eu pensava que poderia ser a Marcia. Mas se não foi ela e, niguém entrou ou saiu da casa além dos mortos, só pode ter sido um dos três...
NOVATO - (Brincando) Talvés a vovózinha?
MORDOMO - Isso mesmo.
NOVATO - Tá maluco?
MORDOMO - Quer saber o que eu penso, o Lobo Mau papava a Vovózinha e também a Chapéuzinho. Aí Chapéuzinho pintou lá num dia em que não era esperada, e acabou dando na pinta, a Vovózinha castigou o Lobo até a morte e matou Chapéuzinho, por acidente se você quer saber.
NOVATO - Agora eu sei por que te chamam de Mordomo. A solução mais fácil e culpar o mordomo.
MORDOMO - Fácil, você acha tudo isso fácil?
NOVATO - Agora falando serio...
MORDOMO - Mas vai ser isso que eu vou colocar no meu relátorio. A única coisa que eu ainda não sei e como a vovó morreu. Os perítos já conseguiram alguma boa nova?
NOVATO - Eu tô em cima deles, mas fazer aqueles caras pegarem um presunto depois que eles engavetam é a coisa mais difícil deste mundo.
MORDOMO - Que bom, assim eu tenho um pretexto para uma visita.
NOVATO - Você não vai ao hospital, vai?
MORDOMO - (Feliz) Vou sim. (Novato se aproxima dele e ele balança o dedo) Sozinho. (Sai)
NOVATO - Esse cara vai arrumar merda.
CENA 12: CASA DA FLORESTA. INT/DIA.
Marta se levanta pega o prato a sua frente, vai retirar a mesa, Lobo esboça a intenção de ajuda-la.
MARTA - (Para Lobo) Vai me ajudar? Não precisa. (Põe o prato que está segurando novamente sobre a mesa e num sanafão puxa a toalha derrubando tudo. Para a neta que quase cai da cadeira) Assustou-se? (Pega a bengala) É... não gosto de cães que mordem o dono, não gosto...
Marta num ato inesperado desfere uma porrada com a bengala nas costas do Lobo. [Para que esta cena seja viável é necessário que as cadeiras não tenham encosto] O Lobo parece não se surpreender, suas únicas reações são uma leve contração e segurar a borda da mesa.
MARTA - (Marta circunda a mesa e nesse momento está nas costas de Celia) Tem um ditado que diz que parentes são iguais aos dentes: estão próximos mas de vez em quando mordem a língua. (Celia se contrai toda esperando a porrada. Marta rir diante dessa reação e continuando a caminhar está de novo nas costa de Lobo e lhe desfere outra porrada. A reação do Lobo é igual a anterior. Quem mais parece sentir as porradas que o Lobo leva é Celia.
MARTA - (Para o Lobo) Pensei que você fosse incapaz de amar alguém... E logo quem... A netinha tão dedicada da vovó... (Desfere várias bengaladas no Lobo)
Celia está em pânico, prestes a explodir. Lobo percebe isto e lhe diz com movimentos labiais: NÃO.
MARTA - Eu só não entendia por que ficava... já que não me...
Um raiva incontrolável se apodera de Marta e ela começa a bater com a bengala nas costa de Lobo num ritmo frenético. Celia não aguenta mais ver isto e se levanta atracando-se a Marta. Só neste momento Lobo reage, mas ao se levantar recebe uma bengalada na cabeça e cai morto, tombando sobre a mesa. Marta e Celia continuam atracadas e lutam, destruindo toda a sala. Em dado momento Marta arremessa Celia contra a parede. A cabeça de Celia se choca contra a parede e ela escorrega até ficar sentada, também morta. Marta cansada caminha até o sofá e se senta.
CENA 13: HOSPITAL. SALA. INT/DIA.
Mordomo entra e encontra Marcia se preparando para sair.
MORDOMO - Você vai pra onde?
MARCIA - Para casa.
MORDOMO - Tem quem a leve?
MARCIA - Eu já pedi um taxi.
MORDOMO - Eu posso leva-la...
MARCIA - Não precisa se incomodar.
MORDOMO - Não é incomodo...
MARCIA - Mas tem o taxi...
MORDOMO - Dispense o taxi.
MARCIA - Não, não...
MORDOMO - (Pegando a mala dela) A mala você vai me deixar carregar?
CENA 14: HOSPITAL. CORREDORES. INT/DIA.
Mordomo fica para trás, observa as pernas de Marcia e meneia a cabeça.
MARCIA - (Voltando-se) Está muito pesada?
MORDOMO - Não, não... (Se põe ao lado de Marcia) Me diga, sua mãe sofria de alguma coisa... (Marcia não entende) Bem, é que não sabemos do que ela morreu e... eu pensei que talvés... pudesse estar associada a...
MARCIA - Ela era diabetica.
MORDOMO - Como é que aqueles filhos da puta não viram isso... (Para Marcia) Desculpe, desculpe... (Pausa) O grau do diabete dela era alto? (Marcia concorda).
CENA 15: HOSPITAL. EXT/DIA.
Enquanto o motorista do taxi põe a mala de Marcia na mala do carro.
MORDOMO - Você tem certeza que não quer minha carona, esse motorista tem cara de quem comprou a carteira?
Marcia ri, entra no taxi e vai embora. Novato aparece e se aproxima.
NOVATO - (Os dois estão olhando para o taxi que se afasta) Vai deixar as pernas escaparem? (Mostrando uma folha) Sabe o que é isso?
MORDOMO - Eles descobriram que a vovózinha sofria de diabete.
NOVATO - Como é que... (Pausa) Acha que ela morreu disso?
MORDOMO - Se ela não tomou insulina, sim. Mas isso é uma das coisas que eu não tô nem preocupado em descobrir.
FIM