segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Primeiro Parágrafo

Floresta Vermelha
ou a verdeira história de chapeuzinho vermelho


Célia está morta. Sentada no chão, está recostada numa das paredes da sala. As pernas esticadas e abertas formam um V. Sua cabeça não está tombada, mas apoiada na parede. O sangue que escorreu da sua nuca transformou parte de seu longo cabelo em dreads grudentos, que se uniram à parede e ao seu pescoço. Ao lado do corpo, ao alcance da mão, um boné vermelho com a logomarca dos cigarros Malboro. Os olhos abertos e fixos em João. Ele está sentado num banco e tombado sobre a mesa de jantar, o rosto voltado para Célia, parece que se olham. O ferimento nele também foi na cabeça. Seu sangue espalhou-se sobre a mesa e cingiu os cacos dos pratos quebrados, dos copos tombados, misturou-se com restos de pudim e as colheres de sobremesa. O sangue perdeu a viscosidade do inicio, agora é só uma mancha escura sobre a mesa rústica de madeira. Marta, está sentada no sofá, parece uma expectadora da cena, uma das mãos descansa no braço do sofá, a outra segura sua bengala apoiada no chão, dá a impressão que vai se levantar. A mão que segura a bengala, na parte em que ela lembra uma maçaneta, está suja de sangue, mas não há nenhum sinal de ferimento em Marta. Ela não tem a palidez cadavérica dos outros dois, e tirando sua imobilidade, parece estar viva.

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